domingo, 19 de outubro de 2008

Ensaio sobre a cegueira


Ensaio sobre a cegueira é um daqueles filmes que não enchem as grandes salas após a primeira semana. Não se trata de um filme adolescente ou de uma mega produção. Trata-se de um filme forte que gera reflexão ao ser entendido. Alguns adolescentes saíram dizendo que foi um dos piores filmes que já viram. Um casal de mais de cinquenta pareceu não entender. Estava tão clara a mensagem e mesmo assim muitos pareciam não compreender o que havia se passado na tela. As pessoas realmente já estão tão cegas e com suas mentes e olhares tão sobrecarregados que de fato não enxergam nem mais a si mesmas, muito menos ao mundo a sua volta.
Tive professoras fantásticas na Faculdade. Muitos não entendiam a importância das disciplinas básicas de português. Lea 174, Lea etc.. Na verdade aprendemos mais que arte ou português, aprendemos a refletir. Não mudamos o mundo, mas questionamos muito sua dinâmica. É triste constatar que mudamos e nem sempre para melhor. O tempo nos deixa calejados e sem fôlego para questionar com a mesma intensidade. Ensaio sobre a cegueira foi um sopro momentâneo em meu coração. Uma brisa cinematográfica dizendo que ainda existem aqueles que sabem fazer bons filmes e através da arte questionar e enfrentar a forma vazia de pensar do homem moderno.

Uma dessas professoras dizia algo que nunca me esqueci: "Há quem transforme desgraça em festa e quem transforme festa em desgraça". Infelizmente dentro de cada um do nós existem as duas capacidades. É duro constatar o quanto me tornei cego e quanta festa transformei em desgraça nos últimos tempos. Quanto medo senti quando não havia nada a temer. Quanto fui cruel quando poderia ter gerado mais felicidade. Quanto fui amado e retribuí com egoísmo e injustiça. Me corrompi -eu mesmo- e transformei a festa em desgraça.
Meu psicólogo perguntou: Você tem medo de que? Eu disse: De terminar como ele! Meus passos de hoje definem meu dia de amanhã. Não ter planos é o mesmo que planejar o fracasso. Medo é a justificativa para sucumbir ao fracasso sem ao menos ter tentado. Fui fraco, fui cego, fui cruel com o meu tempo e as minhas possibilidades. Tão burra a minha inércia de culpar os outros, quando faltou o meu movimento! Tão movediço o terreno de esperar sabe-se lá o que.
Aprender a perder é importante para recomeçar. Deixar partir é importante para prosseguir. Refletir é preciso se quer saber aonde se quer chegar. Aonde eu quero chegar? O que mais preciso perder?

Um comentário:

Edu Corrêa disse...

Bom vê-lo na ativa do blog, novamente! Ótimas reflexões, mesmo que eu não tenha visto - ainda - o filme.
Felicidades nas novas empreitadas, amigo! Espero poder estar presente em algumas delas.